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domingo, julho 16, 2006

Essa vem do Rio de Janeiro

Esse texo é o recorte de um texto do Frederico, lá do imBLOGlio Carioca. (www.imblogliocarioca.blogspot.com) A história é verídica. A nossa indignação também.
Frederico publicou e autorizou a reprodução aqui.


" O menino nasceu no Natal de 1983. Sua mãe, Solange, então com 22 anos, deu ao garoto o nome de Pierre. "Nome 'importado', vai dar sorte", confiou. Menino negro, pobre, nascido em um país de terceiro mundo, na periferia marginalizada, Pierre cresceu.
Vida difícil, dia-a-dia aprendendo as dores do mundo em casa e na rua, sob o olhar da família que, lutando contra os descaminhos sedutores da adolescência de Pierre, consegue manter o rapaz "na linha". Pierre mantém-se na escola e consegue completar o 2º grau. Seus horizontes são curtíssimos mas teve família, tem a cabeça no lugar e vai trabalhar de servente em uma obra, na região serrana. Pouco tempo depois deixa esse emprego e começa a trabalhar como operador de caixa em uma grande rede de supermercados. No dia vinte e cinco de dezembro de 2005, Pierre completa 22 anos, a idade que sua mãe tinha quando ele nasceu. Está satisfeito com o que conseguiu, o emprego no supermercado parece ser estável; tem bom relacionamento com seus colegas e é bem visto na vizinhança onde ainda mora com a mãe. O ano de 2006 chega com suas novidades. "Daqui há seis meses, a Copa do Mundo!", exulta.
Em 16/01/06, uma segunda-feira, Pierre vai a uma praça encontrar com amigos depois do trabalho. Por volta da meia-noite, policiais em uma patrulha da PM, fazendo a ronda nas imediações, ouvem disparos. Se dirigem para o local e encontram Pierre agonizando. Expira.
Poucos meses depois, Solange ingressa com processo na Justiça do Trabalho, solicitando o pagamento das verbas rescisórias devidas ao filho morto, ainda não pagas pela grande rede de supermercados.
2 - Recebi um e-mail com o relato de uma amiga, mostrando-se decepcionada com a Justiça, com a forma que foi tratado seu problema e de sua mãe, com a desatenção de um Juiz com as diversas provas que ela procurava produzir. Lamenta estar decepcionada com as pessoas, com o baixo nível moral que se mostra em qualquer direção que se olhe, com "a podridão do ser humano", conforme diz. Mostro tal relato para uma colega que fica sinceramente consternada com a longa explanação e diz - corretamente - que só podemos pedir desculpas, embora nem saibamos onde se deram tais fatos. Mas há uma culpa e, ao final de tudo, é nossa - como membros do Poder Judiciário - e como cidadãos. (...)
3-O corpo de Pierre foi levado para o IML. Lá, o legista, em seu laudo, informou que Pierre morreu devido a "hemorragia interna, lesão de pulmões e traquéia, ação pérfuro-cortante", com ferimento nas costas, exibindo "ferida ovalar no dorso, em região escapular direita, compatível com entrada de PAF [projétil de arma de fogo]" e com os "pulmões transfixados nos lobos superiores (...), com o terço superior da região torácica esquerda com uma ferida (...) compatível com saída de PAF". Portanto o laudo afirma que Pierre foi alvejado aparentemente por um projétil de arma de fogo que entrou pelas costas, parte superior direita, atravessou os pulmões, destruiu sua traquéia nesse caminho, e saiu pelo peito, lado superior esquerdo do tórax.
Examinando os autos do processo trabalhista interposto contra a grande rede de supermercados, encontramos o boletim de ocorrência da polícia civil (e que integra, originalmente, o processo de investigação) afirmando sobre o mesmíssimo caso, categoricamente, em relato de um policial militar, que, além de Pierre haver sido atingido por "bala perdida", não houve testemunhas do fato e que o corpo 'foi encontrado com perfurações na cabeça'".

3 comentários:

Janaina disse...

Que história triste... infelizmente é assim. O que podemos fazer é divulgar e nos mobilizar né? Porque quem realmente pode fazer, não faz nada.

Anônimo disse...

É chocante mesmo...

Frederico disse...

oi, acabei de ver meu texto. Que bom que vc gostou também. Quer dizer, não dá exatamente para "gostar" de uma notícia assim mas me referi ao texto, à divulgação do fato. Um beijo.