... enquanto a chuva se derrama densa e fria sobre a cidade cá estou, guardada entre livros, recordações, cafeína e nicotina. Os dedos espancam o teclado com fúria num balé insano que, nem sei como, foi se desenvolvendo ao longo dos anos!
Salam Mohamed! é a voz dos almuadéns chamando para reza, do alto dos minaretes do e-mule. Salam mohamed. E sinto a alma perdida sob um pé de tâmaras, pisando a areia áspera do deserto. Asaleico aleikun. Quantos véus? com quantos véus uma mulher cobre a sua angústia e a sua solidão? Quantos véus uma mulher usa pra encobrir que seu tempo é curto?
Salam mohamed. Agora correndo entre os damascos, buscando água no poço pra dar para as cabras. Voltar pra casa, preparar o pão e o tabule. Buscar manjericão no mercado! Chukran.
SEguir a caravana através da Europa... estabelecer-me sob os olivais à beira do Mediterraneo e passar a cozinhar frutos do mar. Reinventar minha dança. Tomar posse desta nova terra pelo golpear vigoroso dos tacões no soalho de madeira. Ganhar flores. Ir até o mercado de Granada. no olvidar lo que pasó! Y llorar el amor que se fue.
Sentir nos quadris e nos pés as reminiscências de ancestrais e tambores. Sentir nos braços e no peito lamento de dores e lutas antigas e o toque da benguela me chamou, eu vou, vou jogar capoeira eu vou.
Quem prestar um pouco de atenção no som e na história verá que todos os tambores de Àfrica e Àsia e Mediterrâneo tem uma conexão cultural, sentimental e mística - por que não - muito forte. Estamos todos envoltos na batida que remete a amores perdidos, lá muerte, um Deus que pode se chamar Alá, Oxalá, Deus mesmo...
Enfim, é isso que dá baixar um monte de música no e-mule botar tudo no mesmo arquivo e cuidar de um monte de bicho numa casa no subúrbio. A gente fica meio pirada da batatinha!
