Aê, todo mundo

Seja bem vindo. Não espere boas maneiras ou mensagens edificantes!
Lembre-se: esse papo de 'só o amor constrói' é balela: quem constrói é o pedreiro.

terça-feira, novembro 07, 2006

Cena urbana n#6 (ou: nessa bumba eu não ando mais)

Morar na zona sul de Porto significa que, a cada vez que eu tinha que ir ao
centro da cidade (ou seja: todo o santo dia) tinha que esperar,
pacienciosamente, o cipó 262. Sim, um cipó: a gente pegava aquela merda no meio
do mato e nunca (eu disse NUNCA) sabia que horas ele ia aparecer. Uma vez
agarrado o cipó era um chacoalhar de uma hora.
Numa dessas viagens estava eu muito puta por ter esquecido meus livros em
casa. Sem um puto anúncio de creme rinse pra ler e sem ualquimem. Saco. Atrás de
mim sentaram dois pirralhos na faixa dos 10, 12 anos. Eram amigaços, amigões. Um
dizia pro outro: "-Que time é teu? e o outro respondia pro um: "- bateu na trave
e entrou no teu. Mas tu conhece o Guido?"... uma coisa linda de se ver! O papo
começou a ficar mais sério. Um deles desabafava seu drama existencial no ouvido
do amigo querido:
- Bah, meu, minha mãe é foda! Meu, todo o dia a
coroa tem um ataque quando eu vou pro banho. é só eu demorar um pouquinho ela
começa a bater na porta e gritar que não é sócia da Ligth... e eu lá sei que
diabo é light? Bom, aí ela botou um despertador dentro do banheiro e disse que
eu tenho 5 minutos pra tomar banho... aí, quando eu pedi pra gente negociar, pra
eu tomar um banho de 10 minutos dia sim, dia não a véia me tocou um chinelo
havaiana. Bah, brincadeira, meu!"

Querem saber? Eu fiquei com pena do
guri!

Outra: vários pirralhos maltrapilhos. Daqueles que
cheiram loló e aterrorizam as madames no centro das grandes cidades. eles
batucavam com alegria e malemolência a paródia de um pagode que fazia sucesso na
época. querem saber? a letra era um primor, lembro até hoje:

"como é que eu posso vomitar batata se eu comi repolho/ Arroz queimado, feijão estragado e macarrão sem molho/ Como é ruim soltá quissuco/ pelo nariz/ lalaraê, lalarelaralaiá laralaííí"

O cobrador ia dar uma moral nos guris... mas aí, percebeu que, assim como eu, havia senhoras distintas rindo e batendo o pezinho... é, o samba é um troço contagiante.

Mais uma: (dessa vez maloqueira fui eu): Indo do fim do mundo pra onde o diabo perdeu as botas na zona sul. REstinga. Tingão lotado,E uma chuva du caralho. Eu carregando bolsa, mochila, cartolina e sombrinha. Subi na porra do buzão. Fui passar a roleta, entreguei a maldita passagem escolar pra abençoada da cobradora. Ela tranca a roleta e diz: "-Primeiro a carteirinha." Tudo bem. Coloco a minha bolsa em cima da caixinha aquela e ela tira a minha bolsa com cara de nojo. Caralho. Fiquei trancando a roleta - não achava a carteirinha. Mau humorada, ela disse: -"não pode ficar aqui." Eu respondo: "então vou descer por trás." Ela retruca: "Não pode descer por trás." Ah é, é? Jogo minhas coisas no chão, pra frente da roleta e... MERGULHO. Um mergulho perfeito por baixo da roleta. Só quem já foi muito maloqueiro na vida, sabe a arte de mergulharem 10 segundos e sem sujar a roupa. (Não quero me gabar mas, a mamãe aqui tem essa mãnha). Pego minha passagem de volta e SENTO. Humpf. Só depois lembrei de olhar pros lados pra conferir se não tinha nenhum aluno meu no buzão aquela hora. Sorte a minha que não. É, macacada, rapadura é doce.... mas é dura!

(Ah, e eu gostaria de agradecer a todos pelo apoio e a
solidariedade demonstrada a este humilde blogue após a notícia do atentado
que sofremos. O último relatório da FBI (federação das baixinhas
invocadas)
aponta para uma conspiração ianque. George Bush e seus
capangas estão sabotando a imprensa às vésperas da eleição. Estou juntando
garrafas e dieseel para uma manifestação PACÍFICA em frente a embaixada
americana. qualquer contribuição será bem vinda. Ah, e se alguém tiver uma
bandeira pra queimar, por favor, traga, porque eu num tenho mais nenhuma no meu
kit)