(um post falando sério)
Tá rolando na mídia direitosa uma série de acusações contra o Padre Júlio Lancelotti, envolvendo um ex-interno da FEBEM. E uma história muito mal contada, cheia de contradições e pântanos movediços. Não vou me ater a isso, até porque, o grande pecado do Padre Júlio não foi o suposto envolvimento com o - na época - "dimenor".
O grande pecado do Padre Júlio foi, por anos a fio, ter defendido moradores de rua, pivetes da FEBEM e presidiários. E,pior, ter dito que essa gente, além de detentora de direitos básicos também era filho de Deus. Onde já se viu?!
Fosse o padre defender criancinha ranhenta ou velhinho de asilo, não tava passando esse perrengue todo. Não, ao invés disso, lá foi o padre Júlio gritar contra a "limpeza" da cidade de São Paulo. Lá foi o padre defender o direito do "mendigo" de ficar sob o viaduto. Esse papo de que há abrigos e albergues pra todo o morador de rua é balela. Não tem! Nem em Sampa, nem aqui e nem na China. Mesmo que tivesse, isso não é uma porra de uma democracia? Pra muitos de nós é bem difícil (impossível até) entender porque uma pessoa prefere às ruas... é uma questão de saúde mental, sobrevivência e - conheço alguns - princípios morais. Não vou discutir isso. O fato é que essa gente "enfeia" a paisagem, desvaloriza imóveis... enfim, um atentado contra a ordem estabelecida.
Acontece que, por mais FEIOS, SUJOS E MALVADOS que essa gente seja, são SIM detentores de direitos e filhos de Deus (pra quem acredita no cabra).
Só quem trabalha ou já trabalhou com população de rua sabe o leão que se mata por dia pra garantir o mínimo pra esse povo. Não falo só da luta contra a própria condição social e psiquica do sujeito: falo da luta com as mais diversas instituições que se omitem em atendê-los. Ninguém os quer.
Bem, aí Padre Júlio se atirou na defesa dessa gente, contrariando a classe mérdia direitosa paulista, que exige suas ruas "limpas" (eu pago imposto pra isso)
Agora, essa mesma classe mérdia que odeia a plebe rude vai se alvoroçar na defesa do "dimenor" pra ir à desforra com o Padre Júlio...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
12 comentários:
Ane, como você trabalha na área sabe bem o que fala. Ninguém gosta de ver a sua rua com pessoas dormindo, mas essas mesmas pessoas não são etéreas e precisam estar em algum lugar. É uma pena que esse tipo de situação persista no Brasil. Beijocas
Lamento que este tipo de situações seja e estejam cada vez mais vulgarizadas. Que humanidade! Bem, eu já nem sei se ela existe, porque os interesses materiais estão a superar-nos.
Ane, o meu post sobre a Flávia está em espanhol, porque eu estou a pedir a todos os blogues do mundo para que enviem um mail para a embaixada brasileira em seus países. Por isso, agora está em espanhol, mas ainda vou colocá-lo em francês, alemão e inglês. Contudo, também já esteve em português. Eu estou a tentar angariar solidariedade para este caso por todo o mundo.
Abraços e que tudo corra bem a ti e aos teus.
Até sempre.
David Santos
Um texto sério e equilibrado, claro e objetivo, tocando na ferida certa: o papel da "mírdia/mérdia" nos dias de hoje, cada vez mais tenebroso. Haja vista a "veja". Ainda bem que o Brasil não é o Brazil dessa gente. Parabéns.
Também não tomo partido pq não conheço o trabalho do Padre..
Mas a hipocrisia desse povo é incrível...
Se ele teve um caso ou não, não me interessa.. acho que a igreja deveria repensar alguns dogmas...
Ou então coisas como essa vão acontecer sempre..
Um beijo e parabéns pelo excelente texto..
Texto muito bom. Vou procurar mais informações a respeito. Bateu curiosidade... Obrigado pela visita.
O problema foi o padre ter "aceitado" a chantagem no começo. Dae se deduz que ele tem algum rabo preso.
Ainda que ele tenha sim, algo a esconder (e quem não tem?), nada invalida tudo o que fez de bom e justo e, até onde sei, foram muitíssimos anos de serviço aos desvalidos...
Ane, como vc disse, uma história muito enrolada, e não conheço o trabalho do Padre Júlio. Mas, acredite, depois de ler o seu post, comecei a simpatizar com ele.
Oi Ane.
Não conheço o trabalho do padre Júlio, assim não me julgo em condições de tecer considerações sobre o mesmo. Da mesma forma, não vou comentar o imbroglio policial, ainda muito obscuro. Mas concordo com a tua afirmação de que os moradores de rua têm, sim, direitos humanos. Por mais que isto desagrade à mídia e setores da sociedade. Neste aspecto, confesso que preciso me policiar em diversas oportunidades para não engrossar o côro dos que antipatizam com estes deserdados sociais - resultado do medo, da insegurança e de uma certa dificuldade em aceitar os que não comungam do mesmo way of life. É duro reconhecer isto, mas é a partir do conhecimento íntimo que se operam as mudanças de comportamente no mundo exterior. Pelo menos é o que eu acho.
Viu, você falou sério e eu me empolguei. Valeu.
Um beijo.
Assunto complexo demais prá digitar com uma mão só e criança no colo no outro braço!
Não suporto essa burguesia asquerosa, que covardemente se aproveita de uma situação de fragilidade de quem ousou, um dia, lhes confrontar, pra "exigir o resgate da moralidade", com a qual não têm qualquer intimidade, exceto quando lhes é oportuna. Pra essa gente a "Solução Final" para os sem-teto e sem-nada seria aceita de bom grado. Assim, poderia passear pelas ruas, lépida e fagueira, sem que os seus narizes arrebitados à custa de cirurgias plásticas tivessem que se retorcer ante o odor nauseabundo emanado dos que vivem nas calçadas.
Vixe! Falei que nem político em campanha, né? Fosse eu mais suscinta, teria escrito somente:"A BURGUESIA FEDE"!
Gostei desse "post sério", pra variar.
Beijão, Ane!
Ane, eu não tenho mais espírito para esse tipo de discussão. Acho que estou "desistindo" do ser humano (ou desistindo de ser humana, para virar um vegetal-expectador).
Postar um comentário