Estava lá o detento em entrevista com o promotor de execuções penais.
- Olha só, doutor, eu baixei o casarão a primeira vez tinha 18 anos...
os 'homi' me pegaram com maconha... pô doutor, naquela época não tinha ainda esse papo de usuário, de discriminalizar a erva. Me enquadraram com 50g de erva.. pô, isso é quase nada!
- Sim, mas como tu era primário deve ter pego pouco tempo...
- É, doutor, 2 anos. Mas o senhor sabe como é guri novo, né... depois de oito meses 'guardado' eu tava ficando quase louco. Daí a gente fugiu.
bom, daí eu tinha que ganhar a vida né... e como eu não tava em dia com a lei, lugar nenhum ia me aceitar...
Foi aí que eu entrei nesse lance de roubar bolsa... na terceira bolsa que eu catei os gambé me acharam.
Aí foi sinistro. Caiu a casa! Me enquadraram no 157, mais o que eu ainda tinha que cumprir da outra bronca. Fiquei 3 anos guardado. Era pra ter ficado 4, mas eu saí antes.
Tava no desvio, né doutor, aí um parceria me propôs um negócio: eu tinha que transportar uns carros, que o mocó dele tava embaçado e tinha que mocosiar as caranga em outro lugar.
Bom, aí eu tava grandão com um Escorte conversível. Era´o último carro do dia. Tô na Ipiranga, a maior tranqueira. Acidente. Eu tava frio, na tranqüilidade... aí mandaram eu encostar. Caiu a casa de novo. Vim parar no Casarão outra vez. Aí tive que puxar 8 anos aqui dentro. OITO ANOS, DOUTROR!
Dessa vez eu cumpri tudo direitinho, saí da cana não devendo nada pra ninguém.
- E então, qual o motivo do teu retorno?
- Bah, doutor, não gosto nem de lembrar essa história. Passei seis meses procurando o que fazer. Nada de arranjar um emprego, qualquer coisa que fosse. Ex apenado.. sabicumé, todo mundo olha desconfiado.
Aí uns camaradinha lá da banda (o Foguinho, o Mancha e o Di Menor) me convidaram pra fazer a fita do mini-mercado.
A gente ia meter um mini-mercado numa finaleira de mês, os caixas cheios de grana...
Era eu e mais três na fita e um quarto na caranga ... eu levei fé nos cara, os cara tinham até um piloto de fuga.
Lá me fui eu.
Quando eu entrei no mini mercado já fui subindo no caixa e gritando: "Ae, todo mundo no chão e sem comédia, senão a bala come" Todo mundo deitando, e eu viro pra trás pra dizer pro Foguinho pegar a grana do caixa... cadÊ o Foguinho? O cara tinha saí fincado, porque viu q um dos coroas da fila do caixa era brigadiano.
Aí a bala comeu... a gente saiu de lá tiroteando... pr a encurtar o caso pro senhor: me pegaram e aí me enquadraram num monte de coisas, e, no final eu vou ter que puxar uns 18 anos de casa grande.
Sabe, doutor, eu tava pensando... eu acho que eu não nasci pra essa vida do crime
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6 comentários:
Graaande Texto, Ane!
Há braços!!
Oh! O Mauro Tax anda por aqui também. Anda bem freqüentado esse blog. :-D
Mas quanto ao post: Muuuuuito bom o texto!
Grande abraço!
Muito bom especialmente pq esse pessoal se julga injusticado e inocente.Todo mundo e culpado menos ele. Vc captou bem.
Ai, não me fiz entender... na real, o cara é um trapalhão... talvez até tenha sido injustiçado pelo sistema... tsc, tsc, tsc.
Eu devia ter feito aquela oficina de produção de texto...
Sem oficina já está excelente, com oficina então nem se fala.
Abraço!
(Bom saber que tu tava viva, mulé!)
genial.
bravo!!
posso imprimir e ler para os meus alunos na faculdade???
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