“Aquela noite prometia. Era quinta-feira, janeiro. Um calor dos diabos. E todos os machos da cidade pareciam no cio. Foram todos pra zona. Olha, eu que fiz muuuuiiitos anos de quadra, nunca vi tanto homem junto como naquela noite. E tava tudo com o diabo no corpo, queriam tudo ali, na quadra mesmo! muitos vieram dizendo que as gurias estavam todas ocupadas... eu achei que era papo... sabe, tem muito bofe que chega nas travas aplicando esse caô-caô... mas nesse dia era verdade, não tinha nenhuma mulher na quadra quando eu cheguei... e nem era meia noite ainda!
Rochele, do alto de sua elegância conta tudo isso bebendo suco de laranja. E adoro ouvi-la falar, separando bem as sílabas, a dicção perfeita... ajeitando o cabelo “quase chanel”. Tem quase cinqüenta anos, mas conserva o corpo de uma bailarina espanhola. E o gosto por muitas bijuterias. Ela segue a história:
“Bom, às duas da manhã já tinha acontecido de tudo: Cliente bêbado querendo sair sem pagar, Bibas brigando por bobagens, adolescentes passando de carro pra zuar com todo mundo ... enfim, lá pelas tantas eu senti aquele cheiro de cilada...”
- .... como assim, mulher?
-“Tolinha, nunca sentiu cheiro de cilada? Eu volta e meia sinto... e quando eu sinto trato de sair correndo... sabe aquela coisa que te diz: te manda que vai feder? Pois é: é isso que eu chamo de cheiro de cilada... foi que nem uma vez que chegou um bofe lindo, queria fazer programa comigo, foi super gentil.. eu tava quase entrando no carro dele, aí lembrei de pegar preservativo e voltei... no meio do caminho me deu um gelo no estômago e fugi... dois meses depois tava a linda face do bonitinho na página policial, tinha matado 2 travestis... eu hein? Meu anjo da guarda não descansa... bom, mas como eu ia dizendo, nessa bendita noite eu já tinha faturado bem e tava indo embora... aí uma amiga, amiga meeeeesmo, daquelas que matam e morrem por ti, se envolveu numa briga com uma mulher que eu nunca tinha visto mais gorda... imagina, o diabo da mulher tinha uma navalha e a minha amiga tava levando a pior. Lá eu fui lá pra apartar a briga... aí chegou a polícia. Foi um furdunço daqueles! Metade do bicharedo foi acudir, era um tal de cassetete contra salto alto, dedo no olho... a fuzarca foi grande, tiveram de chamar reforço... meia hora depois tava todo mundo dentro de uma pata choca pra terminar a noite gloriosa dentro da delegacia... uó, né.
Bom, eu quase tinha escapado, quando eu vi os cana-dura chegando puxei minha amiga e saí correndo... na outra quadra, não sei de onde me sai um alibã e põe a gente na viatura. Primeiro eu fiquei passada, depois... bem, ele era lindo. Um moreno alto, olho claro... a pele também era clarinha... parecia de porcelana. Uns cabelos negros... ai, uma coisa.
Bom, aí ele encostou a viatura do lado da fuzarca e ficou lá comigo e com a minha amiga... E não é que o desgranido dava risada? Olha só, os colegas dele levando o maior sufoco das bibas e o bonito dentro da viatura rindo. Quando ele viu que o caldo ia engrossar de vez foi aí que pediu mais reforço.
Bom, depois de o bicharedo finalmente algemado gritou lá do meio do furdunço um sujeito com cara de chefão: “todo mundo pro distrito”. Quando chegou na delegacia foi aquela coisa: identifica, toma esculacho, depõe... aí quando perguntaram meu nome eu disse o nome de guerra, né, que na época era Sheila. Aí esse alibã que nos prendeu disse:
‘- Não senhora, tem muita Sheila fazendo a quadra! Sheila e Samantha eu já prendi uma 20 só esse mês.’
Aí parou na minha frente e ficou olhando bem pra mim... pensou um pouco e disse:
- 'Tu tem cara de Rochele! É, Rochele é um nome bonito!E gritou pro escrivão:
- ‘Ô amizade, essa aqui acabou de ser batizada. Põe aí, Rochele.’
"Primeiro eu fiquei passada... ora pois, vai querer mudar o meu nome! A audácia do bofe!
Bom, ele era tão bonito e foi até respeitoso... aceitei o batismo, e ali mesmo, na 2° DP fui batizada com esse nome que eu carrego até hoje.
Para Michele, que está lépida e linda abanando os cachos por Santa Cruz do Sul.
Rochele, do alto de sua elegância conta tudo isso bebendo suco de laranja. E adoro ouvi-la falar, separando bem as sílabas, a dicção perfeita... ajeitando o cabelo “quase chanel”. Tem quase cinqüenta anos, mas conserva o corpo de uma bailarina espanhola. E o gosto por muitas bijuterias. Ela segue a história:
“Bom, às duas da manhã já tinha acontecido de tudo: Cliente bêbado querendo sair sem pagar, Bibas brigando por bobagens, adolescentes passando de carro pra zuar com todo mundo ... enfim, lá pelas tantas eu senti aquele cheiro de cilada...”
- .... como assim, mulher?
-“Tolinha, nunca sentiu cheiro de cilada? Eu volta e meia sinto... e quando eu sinto trato de sair correndo... sabe aquela coisa que te diz: te manda que vai feder? Pois é: é isso que eu chamo de cheiro de cilada... foi que nem uma vez que chegou um bofe lindo, queria fazer programa comigo, foi super gentil.. eu tava quase entrando no carro dele, aí lembrei de pegar preservativo e voltei... no meio do caminho me deu um gelo no estômago e fugi... dois meses depois tava a linda face do bonitinho na página policial, tinha matado 2 travestis... eu hein? Meu anjo da guarda não descansa... bom, mas como eu ia dizendo, nessa bendita noite eu já tinha faturado bem e tava indo embora... aí uma amiga, amiga meeeeesmo, daquelas que matam e morrem por ti, se envolveu numa briga com uma mulher que eu nunca tinha visto mais gorda... imagina, o diabo da mulher tinha uma navalha e a minha amiga tava levando a pior. Lá eu fui lá pra apartar a briga... aí chegou a polícia. Foi um furdunço daqueles! Metade do bicharedo foi acudir, era um tal de cassetete contra salto alto, dedo no olho... a fuzarca foi grande, tiveram de chamar reforço... meia hora depois tava todo mundo dentro de uma pata choca pra terminar a noite gloriosa dentro da delegacia... uó, né.
Bom, eu quase tinha escapado, quando eu vi os cana-dura chegando puxei minha amiga e saí correndo... na outra quadra, não sei de onde me sai um alibã e põe a gente na viatura. Primeiro eu fiquei passada, depois... bem, ele era lindo. Um moreno alto, olho claro... a pele também era clarinha... parecia de porcelana. Uns cabelos negros... ai, uma coisa.
Bom, aí ele encostou a viatura do lado da fuzarca e ficou lá comigo e com a minha amiga... E não é que o desgranido dava risada? Olha só, os colegas dele levando o maior sufoco das bibas e o bonito dentro da viatura rindo. Quando ele viu que o caldo ia engrossar de vez foi aí que pediu mais reforço.
Bom, depois de o bicharedo finalmente algemado gritou lá do meio do furdunço um sujeito com cara de chefão: “todo mundo pro distrito”. Quando chegou na delegacia foi aquela coisa: identifica, toma esculacho, depõe... aí quando perguntaram meu nome eu disse o nome de guerra, né, que na época era Sheila. Aí esse alibã que nos prendeu disse:
‘- Não senhora, tem muita Sheila fazendo a quadra! Sheila e Samantha eu já prendi uma 20 só esse mês.’
Aí parou na minha frente e ficou olhando bem pra mim... pensou um pouco e disse:
- 'Tu tem cara de Rochele! É, Rochele é um nome bonito!E gritou pro escrivão:
- ‘Ô amizade, essa aqui acabou de ser batizada. Põe aí, Rochele.’
"Primeiro eu fiquei passada... ora pois, vai querer mudar o meu nome! A audácia do bofe!
Bom, ele era tão bonito e foi até respeitoso... aceitei o batismo, e ali mesmo, na 2° DP fui batizada com esse nome que eu carrego até hoje.
Para Michele, que está lépida e linda abanando os cachos por Santa Cruz do Sul.
Um comentário:
Um coração quando se fecha faz mais barulho que uma porta.
Há braços!!
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